sábado, 1 de janeiro de 2011

Era uma vez no Brasil

Cheguei do Itamaraty há pouco: o coquetel de posse da presidenta Dilma era, naturalmente, uma colmeia agitada: muitos encontros, reencontros, apresentações, combinações, articulações. A grande maioria dos 4 mil convidados nao conseguiu cumprimentá-la. Mal conseguiu vê-la de longe.  Todos sabem que é assim mas todos querem estar lá.  O momento é unico: uma mulher chega à presidência e quebra mais um tabu da nossa historia política. Ave Dilma, feliz Governo!

Frequento aquele  palácio há um quarto de  século e dele tenho belas lembranças que um dia contarei. Mas sempre que estou lá, no salao de recepções, faço minha homanagem silenciosa a Niemeyer e a Lucio Costa, que nos deram tão elegante e tão brasileiro espaço para estas festas.

Em casa, agora, leio pela Internet que Lula chegou a São Bernardo, acompanhado do senador Sarney. O presidente do Senado tornou-se um grande amigo de Lula e teve um gesto de elegancia e delicadeza. Ele sabe o que é deixar a Presidencia.  Eu estava ao pe da rampa quando ele a desceu em 1990, após transmitir o Governo a Collor.  Era o primeiro presidente civil entregando a faixa ao primeiro presidente eleito, depois da ditadura. Vastas emoções ao pé da rampa, e algum pressentimento.

Leio que Lula chorou o voo todo. Dirão que por apego ao poder, dirão que isso apenas prova que nao queria deixar a presidencia.   Para entender este choro é preciso não apenas conhecer a vida de Lula. É preciso pertencer ao mundo de Lula: o mundo dos que vieram de muito longe, de muito baixo, sem berço e sem tradição, sem posses, sem referencias, contando apenas com uma mãe e um sentimento de luta.

Lula deixou o Planalto com 83% de aprovação. Não caiu na tentação do terceiro mandato,. nao mudou a Constituiçao em favor proprio. Se ele nao tivesse feito mais nada na presidência, já lhe deveriamos esta prova irrefutável de que é um democrata e um republicano. Se nao tivesse feito mais nada pelo Brasil. já lhe deveriamos ser reconhecidos por isso.

Agora vai começar o Brasil sem Lula na presidencia. Falemos dele depois.

T.

5 comentários:

  1. Muito bom. Parabéns pela excelente análise do momento histórico vivido pelo Brasil.

    ResponderExcluir
  2. Tereza cumprimento pela sua coragem por não sucumbir ao jornalismo rancoroso que temos visto por aí. É possível praticar um jornalismo crítico, imparcial e sem ser preconceituoso e partidário. Você é a prova disso, um belo texto, parabéns, desejo que você continue narrando esse Brasil que a grande mídia teima em mostrar, ou quando mostra, tentam mudar com os comentários que não condiz com a verdade dos fatos. Abraço, feliz ano novo!

    ResponderExcluir
  3. Extremamente elegante e profissional!

    ResponderExcluir
  4. O maior feito do Presidente Lula foi manter a Constituição como recebeu e surfar por cima das ondas das tentativas de vinculá-lo aos episódios de corrupção e mensalão. Soube aproveitar seu carisma em favor da manutenção de seu mandato e conquistou a reeleição com facilidade, além de colocar como sucessora uma burocrata que foi eleita graças ao seu prestígio. Alguém poderia quer mais, independentemente da classe social em que nasceu?

    ResponderExcluir
  5. Como sempre, uma bela crônica.
    Creio que o sincero e merecido choro de Lula decorra, em grande parte e ao contrário do que a grande imprensa possa dizer, da façanha de ter conseguido concluir bem seus dois mandatos, apesar de toda a truculência dirigida a ele, e, principalmente, por terminá-los com uma aceitação popular que seria inacreditável predizer há alguns anos atrás.

    ResponderExcluir