domingo, 27 de março de 2011

A vida em blog

Há pouco vi as estatísticas deste blog intermitente e senti-me obrigada a dizer um palavra sobre a fidelidade dos leitores que, apesar da  minha intermitência, e compreendendo as razões dela, a sobreposição de outras insondáveis mas incontornáveis premências profissionais, continuam  vindo a este endereço com frequência. Alguns deixam comentários, outros só o registro numérico da passagem. A todos quero dizer obrigada pela companhia e amizade virtual, digamos assim. Certamente têm apreço pelo que escrevo, e daqui a algum tempo poderei escrever mais, pois é este mesmo o meu ofício, é isso mesmo o que sei fazer melhor, embora tenha assumido compromissos de outra ordem,   no que penso estar dando pequena contribuição às comunicações em  nosso país.  Muitos destes fieis vêm do blog anterior em O Globo, outros aproximaram-se a partir da criação da TV Brasil. A todos, obrigada mesmo. Fiquemos juntos.

Estes mês foi dificil escrever aqui,  por razoes várias, tais como:

1. Produzir um balanço do que fez a EBC em 2010 para o Conselho Curador. Para quem não sabe, o organismo da sociedade que controla a qualidade da programação dos canais públicos.
2. Produzir um plano de trabalho para 2011, que o Conselho Curador aprovou na semana passada.
3. Administrar o corte orçamentário de 73 milhões de reais sofrido pela empresa.
4. Acompanhar os planos de mudança na programação para o meio do semestre. Gerir o cotidiano de uma empresa enorme, onde os problemas brotam em pencas. É preciso trabalhar 10, 12 horas por dia, e em alguns momentos prender a respiração e dizer: isso é uma obra em construção, façamos  mais uma força, depois vai melhorar.

Hoje é domigo, lá fora o sol da manhã é ameno. O lago dorme sem brisa e  um quero-quero quebra o silêncio.  Consegui escrever estas linhas antes de mergulhar em um documento de trabalho. Entao,  está tudo bem. Bom domingo a todos.
TC

Tereza

sábado, 5 de março de 2011

A Unesco e a regulação da mídia

Compartilho com voces artigo que escrevi hoje no Correio Braziliense, a propósito da participação da Unesco no debate sobre a regulação da mídia, tão mal posto no Brasil, tão equivocado, sincera ou propositalmente. Acho sinceramente que a Unesco pode ajudar.

 

Bem-vinda, Unesco
Opinião


Tereza Cruvinel
Jornalista, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)

Rancores abrandados, um dia a algaravia há de cessar. Os temores, sinceros ou não, hão de dar lugar ao debate racional, à reflexão comparativa e às formulações sobre a regulação de mídia e convergência digital que não tenham outro interesse senão o de aprimorar a democracia brasileira e fortalecer um de seus pilares, a liberdade de imprensa e de expressão.

Em artigo publicado no jornal Valor Econômico do dia 28 passado, o jornalista Sergio Leo informou a entrada de um novo ente nesse debate conturbado e distorcido, a Unesco. De fato, a agência da ONU encarregada de desenvolver ações globais a favor da educação, da ciência, da cultura e da comunicação vem acompanhando com atenção esse debate e a própria evolução dos sistemas de radiodifusão e telecomunicações no Brasil. Agora, seu ingresso no debate regulatório pode trazer uma brisa, podendo a Unesco até atuar como uma espécie de “força de paz” intelectual, aproveitando o clima criado por essa espécie de distensão nas relações entre a mídia e o governo-Estado, traduzida na inegável lua de mel entre a presidente Dilma e os meios de comunicação (embora pareça existir uma ordem de fogo unido contra o ex-presidente Lula).

A ofensiva da Unesco no debate terá um ponto alto em 17 de março, quando serão lançados três importantes estudos sobre regulação, informa o coordenador de Informação e Comunicação, Guilherme Canela. Dois são assinados pelos consultores internacionais Toby Mendel e Eve Salomon. Juntos, eles já trabalharam em mais de 60 países com o assunto. No estudo O ambiente regulatório para a radiodifusão: uma pesquisa de melhores práticas para os atores-chave brasileiros”, eles comparam a regulação de mídia em 10 democracias (África do Sul, Alemanha, Canadá, Chile, França, Estados Unidos, Jamaica, Malásia, Reino Unido e Tailândia) com a situação brasileira. A abordagem contempla temas como autoridades reguladoras independentes, concessões, regulação e autorregulação de conteúdo, emissoras públicas, emissoras comunitárias e regulação de propriedade. Em Liberdade de expressão e regulação da radiodifusão, eles sustentam que a lógica central da política regulatória deve ser exatamente fortalecer a liberdade de expressão. E não restringi-la, como se consegue ouvir na algaravia brasileira sobre o assunto.

Um terceiro texto é do consultor internacional Andrew Puddephatt e aborda A importância da autorregulação da mídia para a defesa da liberdade de expressão. Entende a Unesco que é importante esclarecer: jornalismo é matéria para autorregulação, mas os veículos também devem construir instrumentos claros e consistentes. A agência reguladora, afora a questão do direito de resposta, cuidaria de temas como conteúdo regional e independente e aspectos da convergência tecnológica.

No fim do governo Lula, o ex-ministro Franklin Martins deu importante contribuição para nosso avanço no tema. Realizou um seminário internacional que trouxe a Brasília especialistas e autoridades reguladoras de vários países. Na TV Brasil, entrevistamos o presidente da ERC, a agência portuguesa. A seguir, criou um grupo de trabalho que elaborou a proposta ora em exame no Minicom. Pela qualidade dos integrantes, não creio, ministro Paulo Bernardo, que tenha besteiras. As iniciativas de Franklin foram rechaçadas pela mídia e de outros setores.

Em 2007, a Unesco contribuiu, mas de forma mais tímida, com o debate sobre a criação da EBC, da televisão e demais canais públicos. Para que debate? Melhor falar na TV do Lula. Da mesma forma, com a proposta de Franklin, melhor falar em supressão da verdade ou especular sobre seu pendor censório. Mas, agora, há o frescor de um governo novo e uma instituição como a Unesco disposta a atuar de forma mais incisiva. Devemos saudar essa novidade, começando por deixar os rancores e as suspeitas fora da discussão sobre os estudos que ela apresentará no dia 17. Pela democracia, pela liberdade de expressão.