terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

As Malvinas são argentinas

 Amigas, amigos,

Nesta quarentena em que evito a  política interna, falo das Malvinas.  Temos que quebrar este quase silêncio sobre o assunto. Em Janeiro, no Uruguai, vi muitas pichações como esta da foto que estou postando. Por isso admiro os uruguaios. Sempre se posicionaram, e por isso se recusaram a ser brasileiros ou argentinos para se tornarem uma Nação. 

O artigo abaixo foi publicado no sábado, 25, no Correio  Braziliense.


Malvinas: pilar do colonialismo tardio
                                                                                                              Tereza Cruvinel
                Merryl Streep é uma atriz completa e fascinante.  Merece o Oscar para o qual está indicada. Sua atuação primorosa como Margareth Thatcher é que salva “A Dama de Ferro” da indecisão entre ser um filme intimista sobre glória, declínio e velhice, ou a cinebiografia de uma das maiores figuras políticas do século 20.    O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reclamou em entrevista da inoportunidade do filme que, de fato, traz desconfortos para seu governo.   Por exemplo, ao recordar que foi tentando superar a impopularidade que Thatcher partiu para a Guerra da Malvinas contra a Argentina em 1982.  Numa passagem, relatando as operações navais, o ministro da Defesa aponta no mapa o deslocamento do navio argentino General Belgrano rumo às ilhas. “Afunde-o”, diz Thatcher glacial.  Um Exocet fez o serviço, matando 323 argentinos.
                Trinta anos depois, o mundo deu muitas voltas mas não removeu este último bastião do colonialismo.  Numa Europa em crise, outro governo inglês, conservador e impopular, remonta o cenário bélico.  A Argentina levou o assunto ao Conselho de Segurança da ONU e vem mobilizando apoios na América Latina e na comunidade internacional.  A presidenta Cristina Kirchner, reeleita com 53.04% dos votos e com a popularidade nas nuvens, não precisa de estratagemas mas retomou, com seu vigor peculiar, uma causa cara aos argentinos.
                A ofensiva inglesa, que somou às ações militares uma estapafúrdia declaração de Cameron,chamando a Argentina de colonialista, vem conseguindo a proeza de abrandar a crispação existente entre a presidente, a mídia, setores da classe média e a oposição partidária.  Ontem, em Ushuaia, capital da Terra do Fogo, parlamentares de diferentes partidos, que integram as comissões de relações exteriores das duas casas do Parlamento, subscreveram documento ratificando a postulação argentina à soberania sobre as Malvinas.  Um grupo de 17 intelectuais argentinos, num movimento timidamente discrepante, anunciou um documento pregando a abertura de “instancias de dialogo real con los británicos y en especial con los malvinenses”.  Na mídia, e em especial no Clarin, ecoam pregações de diálogo com a Inglaterra e com os moradores das ilhas.
                Nada indica que Cristina esteja buscando a guerra, como fizeram os generais da ditadura argentina, em busca de luz no fim do túnel.   Mas o diálogo bilateral já não existe há muito tempo, e todos sabem disso.  Resta agora a mediação da ONU e as ações multilaterais.  Quanto aos malvinenses, como diz Filmus, hoje são ingleses transplantados, não ilhéus originais.
                                Aqui no Brasil tem-se criticado mais o “tom” usado pela Argentina do que a ostentação militar inglesa.    Critica-se a posição adotado pelo Brasil (e demais membros do Mercosul) de fechar os portos a navios com bandeira das Malvinas.  Mas isso também não é novo, nem coisa de governo  do PT.   Na Guerra de 1982, sendo presidente o general Figueiredo,  o Brasil não só fechou os portos como negou pouso, até para abastecimento, a aviões ingleses que seguiam rumo às Malvinas.     Por mais de uma razão, outra não poderia ser a posição do Brasil. Primeiro, pela aliança estratégica firmada com a Argentina, sobre a qual erigiu-se o Mercosul e, mais tarde, toda a política de integração continental, preliminar para o futuro de nossa região no mundo multipolar que está surgindo.
                               Depois, porque a questão das Malvinas é um caso tardio de descolonização, e assim já foi tratado pela ONU em Resolução de 1965.  Uma ex-colônia, solidária na descolonização da África, não pode fechar os olhos ao que acontece aqui ao lado.   O domínio inglês sobre as ilhas é comparável, para nós, a uma continuada presença de Portugal (ou de outra nação colonizadora) no arquipélago de Fernando de Noronha.   Algo intolerável.
                               A palavra está com a ONU mas a crise das Malvinas ainda vai exigir mais do Brasil este ano. Agora, porém, o tema está suplantado, momentaneamente, pela dor de uma tragédia, o acidente de trem de quarta-feira, 22, em Buenos Aires, com 49 mortos e mais de 600 feridos.

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