sexta-feira, 27 de abril de 2012

Dilma dá bronca na embaixadora da Colômbia por engano


O estilo é o homem!”, dizia o francês George Buffon lá pelos idos de 1707.  As mulheres sempre tiveram estilo, mas como não tinham poder, ficaram fora da frase.  Com seu estilo personalíssimo de ser e governar, a presidenta Dilma colhe admiração e respeito mas também semeia mágoas, chegando a criar agora uma fricção diplomática.  Esta semana, a embaixadora da Colômbia no Brasil,  María Elvira Pombo Holguin, foi ao Itamaraty protestar contra o tratamento que recebeu da presidenta em Cartagena, durante a Cúpula das Américas: Dilma deu-lhe uma bronca na frente de outras pessoas, pensando tratar-se de uma funcionária do Governo brasileiro.  A embaixadora, que já viveu bastante tempo no Brasil, fala um português  quase perfeito, o que facilitou a confusão da presidenta. Antes de ser nomeada embaixadora ela ocupava o cargo de diretora-geral do Escritório Comercial do Fundo de Promoção das Exportações da Colômbia (Proexport) no Brasil e foi cônsul de seu país em São Paulo.
 No último domingo, 15 de abril, Dilma informou o anfitrião, o presidente da Colômbia Juan Manuel Santos, que pretendia  antecipar seu retorno ao Brasil pois, como não haveria declaração  conjunta no final, por falta de consenso sobre a inclusão de Cuba no colegiado,  sua presença não seria fundamental.  Preferia voltar mais cedo para reduzir o estresse, chegando ao Brasil ainda no domingo, e não na madrugada de segunda-feira.   Santos  foi compreensivo e desmarcaram o encontro bilateral que teriam depois da cúpula. Ele mesmo informou a imprensa da alteração na agenda.
A seguir, Dilma pediu a seus auxiliares que preparassem o avião e tomassem outras providências para a partida. Algumas envolviam o governo colombiano, que também começou a se mobilizar para a mudança no plano operacional.   Em algum momento, a embaixadora, que como é de praxe deslocara-se para seu pais, procurou a presidenta brasileira e informou-a de que o avião estava pronto para a decolagem.  Neste momento Dilma se irritou, pois havia recebido informação contraditória de outro funcionário.
Fuzilando a embaixadora com o olhar, disse que o avião não estava pronto coisa nenhuma, e criticou a incompetência dos responsáveis pelo assunto, como se Maria Elvira fizesse parte da equipe.  Ela se retirou sem que Dilma percebesse a gafe cometida. Mas, chegando a Brasília,  na quarta-feira foi ao Itamaraty e protestou contra o tratamento recebido.  Correu no ambiente diplomático o rumor de que pretenda deixar o posto mas,  na embaixada,  a telefonista recusou-se a passar a ligação para um assessor de imprensa que pudesse falar do assunto. Disse que o pedido seria levado à própria embaixadora e que esta, se pudesse, retornaria a ligação. Não retornou, até o momento.
As broncas de Dilma em ministros e auxiliares já são conhecidas. Eles quase sempre engolem em seco. Há alguns meses, entretanto, ela enfrentou uma forte reação do governador do Ceará, Cid Gomes. Irritado com o tratamento que ela lhe dispensava, quando discutiam questões do Nordeste, levantou-se e deixou a reunião, dizendo que ela não falasse assim com um governador eleito como ela. Coube ao governador de Pernambuco e colega de partido, Eduardo Campos, colocar panos frios e trazer Cid de volta para a sala.
Este é o estilo. A mulher é o estilo.

Abaixo, a embaixadora Maria Elvira sendo empossada pelo ex-presidente Uribe, em 2010.




Acima: Dilma na Cúpula das Américas.  Fotos "El Pilón - grátis".

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Pela Primeira Vez

 

Foi exibido ontem - quarta-feira, 25 de abril,  no Museu da Republica de Brasilia,  o video-documentário de Ricardo Stuckert sobre a passagem do poder de Lula para Dilma.
A produção, parceria entre a Casablanca e o fotógrafo oficial do Governo Lula,  foi em 3-D, o que deu vida nova a imagens já conhecidas. Elas cobrem apenas cinco fatos: a diplomação de Dilma no TSE, a posse no Congresso e no Palácio, onde houve a transmissão da faixa, a visita de Lula a José Alencar na mesma noite (01/01/2010)  em São Paulo e o comício em São Bernardo do Campo, mais tarde.  Stuckert, um grande fotógrafo, agora ingressou no mundo da imagem animada pela mais nova tecnologia da era digital. A ele deveremos a farta documentação icônica sobre os oito anos da era Lula.
Não gosto dos apagamentos históricos, e não apenas porque fui trotskista na juventude.
Os ministros "faxinados" por Dilma não aparecem no filme. Nem mesmo Pallocci, que foi tão importante na campanha e nos primeiros meses do Governo Dilma.
O presidente do Senado, José Sarney teve a gentileza de acompanhar Lula em sua viagem de retirada do poder. Lula chorou muito, chorou durante quase todo o voô de Brasilia para São Paulo. Não chorava por apego ao poder mas por sentir que estava cumprida a sina fundamental de sua vida. Do pau-de-arara para  História. E teve, alem de dona Marisa, a companhia de Sarney nesta hora especial de sua vida.. Entretanto, corta-se a aparição de Sarney mais de uma vez, embora ele seja visto de relance ao lado de Lula, na beira da cama de Alencar no hospital. Quando entram e descem do avião, entratanto, o corte acontece quando sua imagem se insinua. Esta foi a parte que não gostei no filme de Stuckert. Podem ter havido razões técnicas e não políticas mas fica parecendo que houve apagão de indesejados.
A apresentação foi concorridíssima, reuniu meio mundo do poder, mundo do qual ando distante mas ao qual terei que retornar para trabalhar e ganhar a vida.  Não estive na sala VIP, onde Dilma e Lula conversaram com os mais próximos. Estavam muito bem, ele se recuperando do tratamento, tentando falar pouco, o que para ele, decididamente não é fácil.

Livros, autores e os temas da atualidade

 
A I Bienal Brasil do Livro e da Leitura, ou apenas a Bienal do Livro de Brasília, como ficará conhecida, foi um grande sucesso de público. Não sei se de vendas, mas de participação dos brasilienses, com certeza. Parabéns ao Nilson Rodrigues, idealizador e sonhador deste evento, pelo qual muito batalhou, ao secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira, que abraçou e patrocinou o projeto, ao editor Luiz Fernando Emediato, que foi o curador.
Na programação, destaque para o link que se conseguiu criar entre o debate sobre livros e literatura e a discussão de grandes temas nacionais. Eu, particularmente, mediei dois destes debates que foram um sucesso de participação do público. No dia 21, Carlos Heitor Cony e Thiago de Mello deliciaram a platéia, que tinha gente de todas as idades, relatando a resistência dos escritores na ditadura. Cony, que foi preso seis vezes, Thiago, que viveu tantos anos no exílio,  contaram coisas sabidas e outras não, sobre como eles, e outros escritores, poetas e intelectuais, resistiram aos desmandos. Para recordar alguns outros: Antonio Callado, Austregésilo de Athayde, Moacir Felix, Ferreira Gullar, Dalton Trevisan, Sergio Sant Anna, Inácio de Loyola Brandão, Jose Louzeiro,

No mesmo dia mediei o debate sobre as perspectivas de mudanças mundiais na econômica, com Marcio Porchmann, presidente do Ipea, e Luis Nassif. Platéia interessadíssima, nem consegui apresentar todas as perguntas formuladas pelos participantes. Eles querem saber sobre os rumos do Brasil e do mundo, se estamos mesmo bombando ou surfando numa bolha,  quais são as carreiras do futuro, para onde vão os EUA, que futuro tem a Chinca, que futuro tem a paz etc. etc.

Meu amigo Miguel Sousa Tavares,   de Equador e Rio das Flores, fez uma palestra também muito caliente, em que ficou demonstro o carinho dos tantos leitores que ele tem entre nós, fortalecendo a ponte literária Brasil-Portugal.

Muitas outras coisas bombaram mas sobretudo o atacadão do livro, onde não havia quem não saísse com a sacola cheia.


Houve espaço para editoras e escritores locais, na bienal da capital. Exceção sentida, a ausência da Editora Francis,  acredito que por desencontro de informação e não por discriminação, como especulou seu  Publisher, professor Benicio Schmidt.

Daqui a dois anos, muitos aspectos serão aperfeiçoados. Entre eles, o excesso de eventos no mesmo horário, o que  produziu correrias e hesitações na hora de escolher entre um dos auditórios e o café literário.

O saldo, todavia, é imensamente positivo. Valeu mesmo.
TC.

sábado, 14 de abril de 2012

Começou a I Bienal do Livro de Brasilia. Viva o livro.


A Bienal do Livro e da Leitura de Brasília é um grande evento cultural, que promete entrar para o calendário nacional.  Uma cidade quase sempre confundida com seu papel institucional de capital e freqüentemente associada aos malfeitos de alguns passantes do poder, Brasília tem sempre a ganhar com eventos que revelam sua outra face: a de uma cidade habitada por brasileiros de todas as partes -   alguns aqui nascidos, boa parte vinda de outros estados e de outros países -,   cosmopolita, pluralista, multicultural. aberta à inovação, à criatividade e à arte.  Uma cidade amiga do livro, da leitura e da literatura. Aqui se lê muito. O número de bibliotecas é grande, há um programa de bibliotecas ambulantes e até um açougue, o T-Bone (312 norte) cujo dono vende a carne mas alimenta a alma de seus clientes com suas prateleiras generosas. Ele também disponibiliza mini-bibliotecas em paradas de ônibus. O sujeito pode levar o livro para ler e devolver numa próxima viagem. O índice de retorno seria surpreendentemente alto.
Voltemos à Bienal. Quem concebeu a idéia que agora se realiza foi o Nilson Rodrigues, produtor audiovisual e ativista cultural inquieto e realizador.  No ano passado, discutíamos o licenciamento, pela TV Brasil, de sua série Impressões do Brasil, com entrevistas de grandes nomes da literatura brasileira, quando ele me falou do que ainda era um sonho, a Bienal. O GDF, através do secretário de Cultura Hamilton Pereira abraçou a idéia que agora se realiza.  O editor e jornalista Luis Fernando Emediato é o curador.   A abertura foi hoje pela manhã e o dia já foi de intensa atividade. Agora à noite aconteceu o ato em homenagem ao prêmio Nobel de literatura Wole Soyinka (Nigéria). Neste momento, ele faz uma palestra.
 De hoje, sábado, 14, até o dia 23, mais de 150 nomes nacionais e internacionais das letras e das artes em geral passarão pelo grande pavilhão da Bienal, com mais de 14 mil metros quadrados, montado na Esplanada dos Ministérios.  A riquíssima programação pode ser conferida em http://www.bienalbrasildolivro.com.br/programacao.
Para mim, particularmente, duas alegrias. A Bienal traz ao Brasil um grande amigo, Miguel Sousa Tavares, que se apresenta no dia 20. E no dia 21, serei mediadora do painel “Os escritores na resistência à ditadura”, com o poeta Thiago de Mello e o escritor Carlos Heitor Cony, que também são dois grandes amigos, pelos quais tenho grande admiração e estima.
Longa vida à Bienal do Livro e da Leitura de Brasília.





quarta-feira, 11 de abril de 2012

Jornalismo de suposição

Não fui citada nem procurada pela Folha de São Paulo para a produção da matéria publicada nesta quarta-feira mas como parte da história aconteceu durante minha presidencia na EBC,  sinto-me na obrigação de prestar meu tributo á verdade.   A matéria parte de uma pressuposto para o qual nao apresenta nem provas nem indícios, o de que teria havido influência do ex-ministro Franklin Martins no resultado de uma licitação com sessão pública e aberta, documentada em video. Uma licitação cuja lisura é atestada pela associação dos produtores independentes para TV, a APBI-TV, ou seja, pela entidade que congrega os concorrentes.

Eu era  presidente da EBC quando fizemos, en 2008, a primeira licitação para a produção do programa Nova Africa. Uma licitação na modalidade técnica e preço, que levou meses. Lembro-me de que a produtora Baboon foi vencedora, de que a Cinevideo ficou em segundo ou terceiro lugar. Baboon fez uma bela série para a primeira temporada, Mas, por força de lei, dois anos depois não pude atender ao pleito da produtora e da diretoria de Jornalismo para renovar o contrato sem nova licitação. Embora a lei 8.666 preveja renovações por até cinco anos, isso não fora previsto em edital,. Logo, era preciso realizar nova licitação. A EBC já adotara, nesta altura, minha proposta de licitações simplificadas na modalidade que o mercado chama de pitching, com projeto piloto e defesa oral.  Em 2010, propus a anulação do primeiro concurso quando a Baboon não compareceu á sessão pública denunciando "irregularidades". Uma delas, o fato de a Cinevideo ter entregue sua proposta no protocolo da EBC e nao via Sedex, como previa o Edital. Poderiamos ter mantido o edital  mas,  para evitar suspeições, acolhi o parecer do diretor juridico Marco Antonio Fioravante,  pela anulação do procedimento já realizado.  Tudo fariamos para evitar sombras sobre a produção deste programa tão importante e questionamentos ao mecanismo do pitching,  fundamental para solidificar a participação da produção independente na programação da TV Pública. 

Lançamos novo edital e montamos um comissão de alto nivel para coordenar o concurso. Esta, por sua vez, montou comissão julgadora de qualidade indiscutível, como atesta Fernando Dias, da ABPI-TV, um dos concorrentes.  Eu já havia deixando o cargo quando ocorreu a sessão pública no início de dezembro de 2011.  AComissão técnica me convidou mas não pude ir.  Consta que as apresentações dos três finalistas impressionaram pela qualidade  mas que até os concorrentes admitiram a superioridade da proposta Cinevideo, que saiu vencedora.

Monica Monteiro é uma profissional de grande talento e indiscutível competência profissional.  Produz  para outros canais brasileiros, como TV futura e GNT.  Sua produtora tem unidade na Africa e seu trânsito profissional no continente é bastante conhecido. A Cinevideo já produzia para TV muito antes da criação da TV Brasil. Franklin Martins teve papel determinante na criação da EBC mas, uma vez criada a empresa,  a gestão cotidiana, seja dos canais ou da empresa, passou a ser da diretoria-executiva que presidi. Da mesma forma, hoje em dia a ministra Helena Chagas nao responde pela gestão da empresa que é presidida por Nelson Breve.

A matéria da Folha de São Paulo tem muitas incorreções mas é com o reducionismo ligeiro, sempre utilizado para fazer  valer um pressuposto, que ela se afasta do bom jornalismo. Quando oferece ao leitor um titulo como "Estatal contrata namorada de ex-ministro", a matéria atropela a verdade e os fatos, desinforma e confunde o seu leitor.  A EBC não contratou a namorada de ninguem, nem sequer uma pessoa física. A empresa realizou uma licitação que foi vencida por uma empresa, a Cinevideo, e este resultado não foi contestado pelas demais licitantes. A vida pessoal de nenhum dos concorrentes foi analisada pela comissão avaliadora, de padrão técnico e moral indiscutível. Mas estas informações não são oferecidas de forma linear ao leitor. Não ouviram os membros da comissão avaliadora, nem um orgão de representação como a ABPI, nem um dos canais privados que trabalham com a Cinevideo, nem mesmo a Baboon, que nunca escondeu sua frustração por não ter podido continuar sendo a fornecedora de Nova Africa.

Pela verdade e pelos fatos, eu precisava falar deste assunto.

TC



domingo, 1 de abril de 2012

Contra o esquecimento


O domingo já acabou mas vejo nos jornais Online que, depois dos meninos do Rio, os de São Paulo também protestaram contra os festejos do aniversário do golpe militar de 1964, apoiando a Comissão da Verdade. Postado aqui, o texto de Hidelgard Angel sobre sua participação meio que casual no protesto do Rio emocionou muita gente. Republico meu post sobre o ato do Rio. O da Hilde está logo abaixo.  Este tema não pode nos cansar. Temos que revisitá-lo para não esquecer, jamais.  Gostaria de poder disponibilizar "on demand" o documentário de Flavio Tavares, "O Dia que durou 21 anos", cuja produção apoiei quando presidia a TV Brasil. É uma grande aula, assim como a série "Travessia", de João Batista de Andrade, que tambem teve o nosso apoio para a produção. Obrigada a todos pela leitura. TC

Memória e esqueciimento


Sem memória, não há Cultura, não há História nem  Civilização. Assim mesmo, todas em caixa alta. 
A violência e o conflito  pontuam toda a História mas se a humanidade tivesse posto a pedra do esquecimento sobre  as  piores passagens da jornada, a civilização não teria vencido a barbárie.
Os mortos, os feridos e os vencidos só podem ser vingados pela memória, pela recordação da verdade, para que ela não se repita. Esquecê-los é novamente matá-los e feri-los. É tratá-los como  banais coisas perdidas em algum furacão ou tempestade.
O esquecimento é analgésico, a verdade é antídoto.
Nos momentos de muita dor, esquecer pode ser uma estratégia de sobrevivência, uma ponte na travessia.   Mas , passada a noite escura,  é com a verdade que caminhamos sob o sol.
 Por isso os que foram ao Clube Militar na quinta-feira, 29 de março,  protestar contra a celebração dos 48 anos do golpe militar de 19 64 estão com a razão e com a verdade.
Do lado de dentro estavam os que negam a Verdade.
Os  que esconderam ou queimaram documentos e provas.
Os que apagaram os nomes dos mortos
Nem contam como eles morreram.
Os que desapareaceram com aqueles
que estavam em seus porões
nem revelam o local das covas do Araguaia.
Estes,  que ainda chamam o golpe de revolução.
Por isso nada devem celebrar,
Porque celebram a  mentira e o esquecimento.

As gerações têm carregado, e passado adiante, a tocha da memória.
Mas para que toda a verdade prevaleça, é preciso acender com ela uma grande fogueira,
que ilumine a História e aqueça os corações mais sofridos.
Foi isso que me disseram as fotos que vi esta noite nos sites. Mais uma vez a Avenida Rio Branco  era um campo de luta.   Nos anos 90, lá estavam os cara-pintadas. Nos 80, os que pediam diretas-já e Constituinte.  Nos anos 70, os que cobravam Anistia e liberdades democráticas. Nos anos 60, os que enfrentaram a ditadura com palavras ou com armas.